top of page

Por que Sempre Houve Grandes Escritoras, Mas o Mundo Fingiu Não Ver?

  • campusaraujo
  • 23 de set.
  • 2 min de leitura

Atualizado: há 7 dias


Mulheres escritoras de todos os continentes que vencem o machismo na literatura.
Mulheres escritoras de todos os continentes que vencem o machismo na literatura.

Mulheres Escritoras e o Cupim Silencioso do Machismo


Pouco me espanta que, durante séculos, tenha se repetido a velha ladainha: “Não há grandes escritoras.” E sabe por quê? Porque os mesmos senhores que espalhavam esse mantra também trancavam o acesso às bibliotecas, às escolas e às portas das editoras. Tudo bem fechado, como a cabeça deles.


Não era uma questão de ausência de talento; era uma engenharia social cuidadosamente projetada pra que apenas um tipo de voz ecoasse nos salões literários: a masculina, branca, educada e muito satisfeita consigo mesma.


Mulheres sempre escreveram. O problema nunca foi a escrita; foi a leitura — ou melhor, a não leitura. O maior obstáculo pra elas não foi a falta de capacidade, mas o excesso de testosterona institucionalizada, que tratava a literatura feminina como uma ameaça ao império do narrador universal padrão: homem.


Desde Safo, na Grécia Antiga, passando pelas místicas sufis, pelas cronistas indígenas da América pré-colonial, pelas poetas chinesas da dinastia Tang, até as romancistas negras da África contemporânea. Elas sempre estiveram lá. Sempre escreveram. Sempre pensaram. Sempre criaram mundos.


O problema é que o machismo literário é como cupim em estante, silencioso, persistente e constantemente ignorado. Quando percebem, já corroeu três séculos de história.


Muitas tiveram que assinar como homens: George Sand, George Eliot, até J.K. Rowling entrou na brincadeira, como quem usa iniciais pra acalmar leitores de testosterona frágil. Outras escreveram escondidas em cadernos dobrados, em cozinhas abafadas, em asilos esquecidos. E não foram poucas as que escreveram com sangue, suor e silêncio, contrariando a expectativa de que deveriam permanecer decorativas — não autoras de si mesmas.


A literatura feita por mulheres é tão vasta quanto o mundo: tem a sagacidade afiada de Jane Austen, o abismo existencial de Clarice Lispector, a revolta lírica de Audre Lorde, a brutalidade crua de Elena Ferrante, a lucidez política de Chimamanda, a doçura cortante de Sophia de Mello Breyner, a alma encarnada de Nawal El Saadawi. E isso é só o começo — a lista é praticamente uma constelação inteira.


Mulheres Escritoras Escrevem Sobre Tudo


Ainda hoje, mesmo num mundo que adora acreditar que hashtags resolvem séculos de opressão, tem gente que se espanta ao ver mulher escrevendo sobre sexo, Senhora Derradeira, guerra, filosofia, política, maternidade, espiritualidade ou o próprio umbigo.


É como se a literatura delas fosse uma subcategoria da literatura universal, uma prateleira menor, ali ao lado dos “interesses femininos”, um rótulo que sempre cheira a condescendência.


Mulher que escreve incomoda. Incomoda porque tem voz. E voz feminina no papel é barulho demais pros ouvidos que ainda vivem na Idade Média emocional. O que esses ouvidos querem, na verdade, é silêncio — aquele silêncio confortável que o patriarcado aprendeu a chamar de harmonia.

Mas o que as mulheres merecem é exatamente o contrário: acabar com esse silêncio.


 

 

 
 
 

Comentários


bottom of page