Quem Descobriu o Brasil? Cabral, Pinzón e a Verdade que os Livros Não Contam
- campusaraujo
- há 7 dias
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Atualizado: há 5 dias

Cabral ou Pinzón?
Não sei quantas vezes, ao longo desta minha vida já meio gasta como tesoura da escola pública, ouvi alguém perguntar quem descobriu o Brasil. A palavra ainda circula com a mesma inocência de um livro didático dos anos 1950, como se o país tivesse escondido sob uma toalha de piquenique e alguém tivesse erguido um canto da toalha pra dizer: “Ah, olha só, tem gente morando aqui!” É bonito, quase infantil. Mas infantilismo histórico é um dos esportes preferidos deste país, talvez o único em que somos realmente competitivos.
A versão oficial, aquela que adorna estátuas, praças e provões do MEC, diz Pedro Álvares Cabral. O bom Cabral, comandante de armada vistosa, autorizado pelo rei, burocraticamente preparado para fazer exatamente o que fez: declarar posse de uma terra que já não precisava ser descoberta por ninguém.
Era tão descoberta que havia milhões de pessoas vivendo nela, cultivando, guerreando, amando, errando e contando bons causos muito antes de Portugal saber andar em linha reta no Atlântico. Mas aí a gente entra naquele território sensível onde a história vira uma espécie de teatro: indígenas “achados”, europeus “descobridores”, e o palco montado pra glória lusitana.
Mas deixemos Cabral de lado por um instante, o rapaz não tem culpa da mitomania europeia. Entremos em cena com Vicente Yañez Pinzón, espanhol, navegador competente, figura meio apagada nos salões da fama porque a vida, como sabemos, é pródiga em injustiças. Pinzón aportou em território brasileiro em 26 de janeiro de 1500. Janeiro! Três meses antes do Cabral sequer avistar o Monte Pascoal. Chegou, viu, conversou, pescou uns peixes (ou algo equivalente), mas não tomou posse.
O Tratado de Tordesilhas dizia: “Daqui para lá é espanhol, daqui para cá é português”. E Pinzón estava do lado errado da linha imaginária desenhada por europeus que nunca tinham pisado fora da Europa. A geopolítica é isso mesmo: um mapa, uma caneta e um delírio.
A Espanha, que não era exatamente uma potência na diplomacia da humildade, poderia ter dito: “Fomos nós, registrem aí!”. Mas achou melhor evitar briga com Portugal. E Pinzón, coitado, virou nota de rodapé. Descobriu, mas não valeu. É como marcar um gol anulado por impedimento que nem existiu — ah, como diria meu falecido técnico da várzea, a vida é cheia de bandeirinhas com vontade de aparecer.
Nem Cabral, nem Pinzón
Agora, se vamos entrar no espírito da honestidade histórica, o verdadeiro descobridor do Brasil, o real, o autêntico, o incontornável, não foi nenhum dos dois. O território já era habitado há pelo menos 12 mil anos por povos indígenas que não precisavam de caravelas, cruzes ou cartas régias para dizer onde estavam.
A ideia de “descoberta” só funciona quando se aceita a fábula de que a existência indígena é uma espécie de prelúdio, uma introdução sem direito a título, algo que só ganha nome quando um europeu resolve carimbar.
Eu, cá do meu canto em Pinheiros, conversando mentalmente com Botox enquanto ele fareja o infinito do tapete, penso nessas contradições. O país foi “descoberto” diversas vezes, por diversos olhares, mas preferimos fixar a versão burocrática. É uma escolha. E escolhas históricas têm a mania de refletir nossas vaidades.
Talvez sejamos um povo que gosta de datas claras porque a vida, no resto do tempo, é caótica demais. Ou talvez tenhamos herdado dos portugueses esse fascínio por caravelas, como se nada antes delas tivesse sido verdade.
No fundo, essa pergunta, Cabral ou Pinzón? é menos sobre o passado e mais sobre a compulsão brasileira por achar um pai fundador que nos desculpe dos erros. Pinzón nos daria um pai estrangeiro demais. Cabral, ao menos, é o pai burocrático, o funcionário exemplar de um reino pequeno com ambições grandes. Dá um certo conforto institucional.
Mas, para mim, quem descobriu o Brasil foram mesmo os que já estavam aqui. O resto é papelada. E papelada, meu amigo, eu já assinei demais na vida.
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