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A morte lenta do Império Romano do Ocidente

  • campusaraujo
  • 15 de ago.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 17 de ago.

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Roma não caiu, só esqueceu de se levantar


Se o leitor acha que o Império Romano do Ocidente “caiu” em 476, como um prédio mal construído, sinto dizer que não foi bem assim. Não houve um barulho de tijolos, nem gritos de legionários correndo em chamas. O que houve foi um longo e tedioso processo de decadência, desses que fazem o paciente esquecer que já tá morto e continuar pagando imposto.


A data de 476, com o simpático bárbaro Odoacro depenando o último imperador, Rômulo Augústulo, serve mais pros professores de história organizarem o PowerPoint do que pra explicar qualquer coisa. Roma já tava há décadas, pra não dizer séculos, se esfarelando como pão dormido.


O “colapso” foi mais um ato administrativo: Odoacro chega, tira a coroa do menino imperador (porque ele realmente era um menino), manda pra Constantinopla e diz: “Agora mando eu”. O resto da população deve ter pensado: “Tanto faz, desde que o pão e o circo continuem”, mas o pão tava caro e o circo, decadente. O Império já vinha sendo governado por generais estrangeiros, sustentado por mercenários que eram tão romanos quanto eu sou jogador de basquete da NBA.


A economia tava tão robusta quanto uma tábua de passar roupa, corroída por impostos e corrupção. As fronteiras, outrora guardadas por legiões disciplinadas, tavam nas mãos de bárbaros que ora defendiam, ora saqueavam. As cidades minguavam, a população fugia pro campo e a infraestrutura, que já fora orgulho do mundo, apodrecia sem manutenção. Era a morte por mil cortes.


Mas o mais interessante, e aqui entra minha velha implicância com certas narrativas, é que, pra muitos habitantes da época, nada de extraordinário aconteceu. O fazendeiro na Gália continuou plantando trigo, o ferreiro no norte da Itália seguiu forjando ferraduras, e o padre continuou pregando sobre o Juízo Final (spoiler: não era o de Roma). A ideia de “queda” é retroativa, criada séculos depois pra organizar o caos num capítulo de livro.


O Império Romano do Ocidente não caiu como um colosso tombando; ele foi se dissolvendo até que, um dia, já não havia mais o que chamar de Roma. Ficou a herança: o latim deformado, as estradas que ainda funcionavam mais ou menos, e a mania europeia de achar que civilização é sinônimo de capital lotada de burocratas. No fundo, Roma não morreu. Ela só terceirizou a decadência e nós, dois mil anos depois, seguimos renovando o contrato.


 
 
 

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