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É literatura na veia, véio!

  • campusaraujo
  • 8 de jul.
  • 2 min de leitura
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O amor acabou, mas sobrou literatura


Não há dor amorosa que um bom livro não transforme em frase sublinhada.


A primeira vez que me apaixonei foi por engano. Achei que era amor, mas era só carência com leitura de Fernando Pessoa ao fundo. Acontece. Quando ela foi embora (ela sempre vai), eu fiz o que todo jovem sensível e mal resolvido faz: me tranquei com um livro e um copo de vinho. O livro era Os Sofrimentos do Jovem Werther. O vinho era barato. Chorei em silêncio. Não pelo fim e sim porque Goethe tinha razão.


A literatura sempre chega depois do caos. Quando o amor já virou lembrança ou ressentimento, ela aparece, como aquela amiga que não julga, só entrega um lenço e cita Simone de Beauvoir.


Quantos amores foram escritos com raiva? Quantos romances nasceram da ausência? Proust reviveu um século inteiro tentando encontrar o gosto de um amor perdido numa madeleine.


Clarice Lispector escreveu amando o que não entendia. E Drummond dizia que o amor é primo da Senhora Derradeira. E os dois são crianças traquinas.


Às vezes acho que a gente só ama pra poder escrever depois. Que há, no fundo do afeto, uma urgência estética. Uma vontade secreta de transformar abandono em estilo, silêncio em frase bonita, dor em memória narrável. Como se o que não vira texto continuasse nos assombrando.


A literatura não consola. Ela compartilha. Ela diz: “Você tá sofrendo? Eu também. Mas veja como isso fica bonito no papel.”


Talvez seja por isso que, quando o amor morre, a gente escreve. Porque, no fim, quem sobrevive à paixão, ainda precisa sobreviver à memória.



 
 
 

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