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Filosofia é Quando Você Briga com Você Mesmo e Perde

  • campusaraujo
  • há 2 dias
  • 2 min de leitura

Aristóteles e outros filosofos em um café em Paris

Aristóteles sentado na mesa de um café em Paris, com fone de ouvidos e olhando o celular. Na outra mesa, Sartre conversa com outros quatro filósofos. Pela janela se vê a Torre Eifel e Horácio, junto com Botox, observa o interior do Café.


A Primeira Bofetada Filosófica


A primeira vez que li Nietzsche, fiquei dois dias sem saber se eu existia mesmo ou se só estava fingindo com muita competência. Foi como levar um tapa metafísico na cara. Eu tinha aquela arrogância típica da adolescência: queria estudar filosofia para vencer discussões, deixar as pessoas sem resposta, humilhar na mesa do bar com citações gregas como quem arremessa dardos envenenados.Pois é. Mal sabia que, no fim, quem ficaria sem respostas seria eu.


Achei que, ao mergulhar nos pré-socráticos, eu sairia de qualquer conversa com um argumento indestrutível, um tipo de Excalibur intelectual. Ledo engano. Em vez de certezas, encontrei mais dúvidas do que cabelos na cabeça. E ainda ganhei uma mania insuportável de desconfiar de tudo: do preço do pão, da moralidade das pombas e da própria existência de Deus.


Lembro nitidamente da minha primeira crise existencial. Eu tinha 17 anos e acabara de ler um parágrafo de Schopenhauer. Um único parágrafo! Fechei o livro e pensei: “Talvez eu seja só vontade cega de continuar me enganando.” Fui até o espelho, me encarei com uma intensidade ridícula, odiei o que vi e, como todo filósofo amador derrotado pela vida, fui tomar café. O café, ao menos, era real. Ou eu espero que seja.


Entre Existencialistas e Desilusão


A filosofia é uma arte suicida de ideias. Você começa querendo saber “o que é a verdade” e acaba duvidando se o chão é chão mesmo ou só uma metáfora particularmente bem escrita. Os pré-socráticos tentaram reduzir o mundo a água, fogo, ar ou caos; os modernos declararam “penso, logo existo”, como se essa frase resolvesse alguma coisa, como se pensar já fosse prova de alguma sanidade.


Depois vieram os existencialistas, cheios de elegância trágica, pra nos lembrar: “Você existe, sim. E a responsabilidade é sua. Boa sorte aí.”


No fim das contas, filosofia não serve pra ganhar debates, serve pra perder ilusões. Ela não entrega respostas, entrega perguntas melhores. Quando, muito raramente, responde, faz isso com tanta sutileza que você nem percebe que acabou de ser insultado.


Hoje vejo gente dizendo que filosofia é inútil. Concordo. É inútil como o amor, como a arte, como o silêncio. Essas coisas que mudam a vida inteira sem pedir permissão. Se você ainda não brigou consigo mesmo, cuidado. Não corra o risco de aceitar tudo fácil demais. E quando brigar, lembre-se:


Você vai perder. Mas sairá mais sábio dessa surra.




 
 
 

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